Leia o texto para responder às questões de números 01 a 03.
Morte de uma baleia
Em minutos espalhara-se a notícia: uma baleia no Leme e outra no Leblon haviam surgido na arrebentação de onde tinham tentado sair sem, no entanto, poder voltar. Eram descomunais apesar de apenas filhotes. Todos foram ver. Eu não fui: sobre a mais próxima de mim, corria o boato de que ela agonizava já há oito horas e que até atirar nela haviam atirado mas ela continuava agonizando e sem morrer.
Senti um horror diante do que contavam e que talvez não fossem estritamente os fatos reais, mas a lenda já estava formada em torno do extraordinário que enfim, enfim! acontecia, pois, por pura sede de vida melhor, estamos sempre à espera do extraordinário que talvez nos salve de uma vida contida. Se fosse um homem que estivesse agonizando na praia durante oito horas, nós o santificaríamos, tanto precisamos de crer no que é impossível.
Não. Não fui vê-la: detesto a morte.
(LISPECTOR, Clarice. Crônicas para jovens: do Rio de Janeiro e seus personagens. Rio de Janeiro: Rocco jovens leitores, 2011. Excerto adaptado)
Conforme a autora,
a decisão de não ir até onde estaria a baleia se deve primordialmente à sua descrença em boatos disseminados pelo povo.
o horror que lhe causava a história da morte da baleia tem em sua origem o mistério que rodeia a vida desses animais.
o episódio da baleia agonizante se agarrando à vida remete à forma como a vida é desprovida de sentido para a humanidade.
a atenção dada ao acontecido com a baleia se deve à nossa receptividade a eventos que nos tirem da vida comum.
a reação popular à morte da baleia espelha o descaso com que agimos em situações parecidas envolvendo pessoas.
Leia o texto para responder às questões de números 04 a 10.
Máscara no chão
A oscilação do arco narrativo russo acerca de sua campanha militar contra a Ucrânia segue fielmente o desempenho de suas tropas, no solo do vizinho desde 24 de fevereiro.
Assim que os primeiros mísseis caíram, Vladimir Putin declarou o objetivo de desmilitarizar o rival, além de evitar sua entrada em estruturas ocidentais como a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, e garantir a autonomia dos separatistas russófonos no leste ucraniano.
Pode-se argumentar que a Ucrânia esteja se militarizando mais rapidamente, apesar de a enxurrada de armas ocidentais parecer distante de deter os russos. O sucesso de Putin é maior, contudo, na inviabilização do Estado ucraniano.
A União Europeia pode até prometer uma vaga a Kiev, mas isso é ilusão: mesmo sem o conflito o país não reunia condições para ser aceito no bloco. Quanto a chegar à Otan, o caminho é ainda mais bloqueado por temores de ampliação da guerra.
Putin optou pelo cinismo. Agiu para derrubar o governo de Volodimir Zelenski numa tacada única, mas, ao fracassar militarmente por soberba tática, negou buscar isso. Descartou querer ganhos territoriais, apesar de ter anexado a Crimeia em 2014 e fomentado a guerra civil no Donbass, que incubou a tragédia ora em curso.
Agora, a máscara caiu. Em duas falas, o chanceler russo entregou o jogo. Segundo Serguei Lavrov, um dos decanos da diplomacia mundial, a Rússia não se contentará com o Donbass. Quer o sul ucraniano, a saber se o território que já ocupa ou toda a costa até o enclave que mantém na Moldova, e tem por meta livrar os ucranianos do “fardo desse regime absolutamente inaceitável”. Ou seja, destruir a soberania do país.
No campo de batalha, ganhos lentos, mas firmes, sugerem a consolidação da posição militar russa, mais sóbria agora. Reveses poderão fazer Putin buscar remendar as fantasias rasgadas, o que será inócuo tanto para adversários céticos como para aliados que já não se importam com o estado delas.
(Editorial. Folha de S.Paulo. São Paulo, 26 jul. 2022. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/07/ mascara-no-chao.shtml>. Adaptado)
Conforme aponta o Editorial,
a Rússia demonstra confiar cada vez menos na possibilidade de sucesso militar na guerra para a qual arrastou a Ucrânia.
o discurso russo sobre as intenções militares na Ucrânia tem mudado, ajustando-se aos resultados do campo de batalha.
a defesa dos separatistas do leste ucraniano provou-se até aqui ser o principal objetivo militar russo no país vizinho.
a decisão do presidente ucraniano de não se abrir ao diálogo confirma-se como o real motivo para o conflito com a Rússia.
a anuência, ainda que disfarçada, da União Europeia à iniciativa russa enfraquece ainda mais a Ucrânia militarmente.
O título “Máscara no chão” antecipa a ideia defendida no Editorial segundo a qual a
aliança militar liderada pelos Estados Unidos assumiu não ter intenção de admitir a Ucrânia na organização.
Ucrânia foi tragada para a guerra porque seu atual governo mostrava firme disposição em se perpetuar no poder.
ação de potências estrangeiras, e não do exército ucraniano, foi responsável por coibir as forças russas na Ucrânia.
Ucrânia sabia da superioridade militar russa e ainda assim desencadeou uma disputa por territórios do país vizinho.
Rússia finalmente revela claramente seu objetivo de impedir a Ucrânia de continuar sendo um Estado soberano.
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